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Rivais na Libertadores, Inter e São Paulo trocam de papéis após a Copa

Por Marcelo Prado e Marcelo Jorge Carrapito
São Paulo e Rio de Janeiro


Colorado se reencontrou após a Copa do Mundo e terá pela frente um adversário que perdeu seus pontos de equilíbrio.


Há exatos 51 dias, quando o futebol brasileiro foi paralisado por causa da Copa do Mundo da África do Sul, os números davam total favoritismo ao São Paulo no duelo da semifinal da Taça Libertadores da América contra o Internacional. Afinal, a equipe de Ricardo Gomes era a sexta colocada na tabela do Brasileirão, enquanto o time de Jorge Fossatti ocupava a 16ª posição, a última antes da zona de rebaixamento.

O tempo passou, o Brasileirão voltou e, o que parecia certo, virou errado. O Inter, após a mudança no comando técnico (Fossatti foi embora, e Celso Roth chegou), renasceu e reencontrou o seu caminho. Com uma arrancada espetacular e quatro vitórias conquistadas (Guarani, Ceará, Atlético-MG e Flamengo), o time deixou a incômoda posição na tabela para garantir um lugar no G-4 da competição. Já seu rival paulista parece ter perdido o rumo e, com apenas um ponto conquistado nos 12 que disputou, o São Paulo caiu da sexta para a 15° colocação, com o mesmo número de pontos do Botafogo, que é o primeiro integrante da zona do rebaixamento. Se forem considerados apenas os resultados pós-Copa do Mundo, o Tricolor é o pior time do Campeonato Brasileiro.

Mas o que será que aconteceu com as duas equipes? O que fez o Inter crescer tanto e o São Paulo descer a ladeira?

Roth muda tudo, e time cresce

Celso Roth chegou durante a pausa para a Copa do Mundo da África do Sul, mais precisamente no dia 14 de junho. Logo nos primeiros treinos, deixou claro que o esquema com três zagueiros, que vinha sendo utilizado por seu antecessor, estava condenado. Ele passou para o 4-4-2 e apostou na velocidade.

- Com o Fossati não deu muito certo porque ele queria sempre jogar com três zagueiros e nosso time não se adaptava em alguns jogos com este esquema, isso atrapalhou um pouco. O Celso é um cara que trabalha bastante, sempre conversa com a gente, pergunta como seria melhor o time jogar. Ele sabe também como os times do Sul jogam, marcando forte e saindo com qualidade. A gente não gostava mesmo de jogar com três zagueiros, mas ele (Fossati) colocava sempre. É no 4-4-2 que a gente fica mais solto. Com três zagueiros ficava muito amarrado – analisa o volante Sandro, que está negociado com o Tottenham, da Inglaterra, por telefone.

Outro fator apontado por Sandro como importante para justificar o crescimento da equipe foi o aumento da carga de treinamentos.

- O Roth treina muito mais do que o Fossati. O Fossati dava mais descanso. O Celso treina e fala muito mais que ele, isso está ajudando mais a gente, para nos acertamos e nos cobrarmos mais dentro de campo – acrescentou.



Sandro acredita que o poder de marcação do São Paulo enfraqueceu, No entanto, reconhece que o comportamento do time em uma competição como a Taça Libertadores da América é completamente diferente que no Campeonato Brasileiro:

- O time do São Paulo, quando tem a bola, é muito forte. Quando não tem, não estão fazendo uma marcação forte nos adversários, pois eles não estão pressionando muito. Quando tem a bola no pé, joga fácil. Tem a bola parada, com o Fernandão, pelo alto, pelo chão... ele joga muito. Vejo como ponto forte também a bola no pé do Hernanes. Temos que fazer pressão para roubar essa bola, não deixar ele pensar muito. Mas Brasileirão é Brasileirão. Libertadores é outra competição e muda tudo. Temos que explorar a velocidade e ir em direção ao gol – concluiu.

Tricolor tem problemas na frente e atrás

No São Paulo, impressiona como um time que passou quatro semanas apenas treinando possa ter caído tanto de rendimento. Ricardo Gomes havia encontrado a formação ideal nas vitórias sobre o Cruzeiro, pela Libertadores, e sobre o Internacional, no Campeonato Brasileiro. O esquema, com três zagueiros, tinha Richarlyson jogando improvisado na zaga pela esquerda, para fazer com que o time ganhasse qualidade na saída de jogo pela esquerda. Do meio para a frente, a aposta era na movimentação e na troca rápida de passes do trio Marlos, Dagoberto e Fernandão, que eram municiados pelos avanços dos alas Cicinho e Junior Cesar.

Mas tudo começou a mudar, e para pior, quando Cicinho viu seu contrato de empréstimo acabar. O Roma só aceitava liberar o camisa 23 se o São Paulo topasse um novo contrato até dezembro. Como o time do Morumbi não achou que o investimento valesse a pena, Cicinho voltou para a Itália e, o que estava acertado taticamente, se perdeu.

- A saída do Cicinho foi muito prejudicial. É claro que ele não estava rendendo tudo o que podia. Mas tenho certeza de que agora ele iria crescer. Além disso, a sua ausência nos causou um enorme problema, já que o Jean não sabe jogar no 4-4-2. E, em alguns jogos, como contra o Internacional, é muito perigoso você jogar no esquema com três zagueiros pelo fato do Inter sempre jogar com dois meias. Só que eu não tenho alternativa - explicou Gomes.


Além disso, o treinador resolveu inverter a posição dos seus zagueiros. Richarlyson continuou pela esquerda, mas Alex Silva, que atuava pela direita, passou a jogar pela sobra, com Miranda saindo para a direita. A defesa perdeu o rumo. Se na Taça Libertadores, Rogério Ceni só foi vazado duas vezes em dez partidas, após a Copa do Mundo o goleiro levou seis gols em quatro jogos.

- O problema não é só na defesa. Nossa marcação não é mais a mesma, não estamos com a mesma pegada. O Rodrigo Souto, que é peça muito importante, não está no melhor da sua forma e isso atrapalha o time.

Para completar os problemas, a parte ofensiva também perdeu força. Marlos não manteve a regularidade, assim como Hernanes, que voltou a cair de rendimento. Com isso, Dagoberto e Fernandão passaram a ter problemas na frente, já que a bola passou a não chegar com a mesma frequência e a mesma qualidade de antes.

- O noso meio-campo está muito lento, previsível. Nosso adversário consegue fazer facilmente a leitura, sabe o que vamos fazer. Precisamos mexer nisso - ressaltou o treinador, que é só elogios ao Internacional, rival da próxima quarta-feira.

- É um time muito equilibrado e que se reencontrou. Soube aproveitar muito bem a parada para a Copa do Mundo. Serão dois grandes jogos.