D'alessandro, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, analisa sua carreira, fala da história de amor que teve com River Plate e Inter, comemora conquistas, lamenta erros e traça objetivos. Aqui, techos da entrevista.
Há exatos 30 anos, enquanto a Argentina apenas começava a formar Maradona como mito, enquanto um certo Paulo Roberto Falcão sonhava com a Copa do Mundo de 1982, um hospital de Buenos Aires entregava à luz mais um pequeno portenho. Dizem que as enfermeiras tiveram especial atenção com a perna esquerda do recém-nascido Andrés. Afinal, nunca se sabe, dali poderia surgir um drible só dele, ali poderia estar o alicerce de um símbolo do River Plate, ali poderia estar em criação um ícone moderno de algum clube (igualmente vermelho) de algum país vizinho (igualmente enlouquecido por futebol).
Há exatos 30 anos, abria os olhos em Buenos Aires o menino chamado Andrés Nicolas, que em breve infernizaria, com pernas finas, os vizinhos de La Paternal nas brincadeiras de rua, nas peladas de bairro.
Há exatos 30 anos, nascia Andrés Nicolas D’Alessandro, nascia D’Ale, nascia um futuro campeão da América pelo Internacional. O maior craque da atualidade no Beira-Rio vira trintão nesta sexta-feira. Referencial técnico do time, amado pela torcida, eleito melhor jogador do continente há poucos meses (em tradicional votação do jornal uruguaio “El País”), D’Alessandro completa três décadas de vida com histórias (boas e ruins) para contar. E com sonhos. O camisa 10 quer, a todo custo, disputar a Copa de 2014. E dá um aviso, em seu aniversário, como presente para a torcida: seguirá no Inter até lá.
D’Alessandro acertou renovação de contrato com o Inter. O novo vínculo vai até 2015. Só falta assinar. E ele não pensa em deixar o Beira-Rio tão cedo. O jogador, mesmo com tanta idolatria, mesmo com títulos expressivos, ainda não se sente parte do olimpo colorado, onde repousam os deuses dos mais de 100 anos de vida do clube. Para chegar lá, ele diz que precisa de mais tempo. E, pelo jeito, terá.
Eu lembro bem de sua chegada no Inter. Você desceu no aeroporto, e havia centenas de colorados lá. Aí você passou pelo hotel e logo veio para o Beira-Rio ver um jogo do Inter. Era contra o Santos. O Inter jogou muito mal naquela noite. Mas a questão é: você tinha, naquele momento, alguma noção de que tanta coisa poderia acontecer com você no Inter?
Claro que não. Claro que não. Quando você chega a um novo clube, tem expectativa, tem sonho, tem objetivo, mas não como aqui. Eu sabia que o Inter era grande, um dos maiores do Brasil, que tinha vencido a Libertadores de 2006, que tinha um grupo muito bom, mas é um processo até começar a vencer no clube. Tudo tem que sair bem. Um grupo que ganha é um grupo unido, formado há tempo. Pode acontecer de um grupo formado no início de um ano ganhar alguma coisa na metade do ano, mas acontece poucas vezes. Os que mais ganharam, como é o caso do Barcelona, jogam juntos há quatro, cinco, seis anos. São como uma família.
Pois é, D’Alessandro. Essa é uma questão importante. Você vive, sem dúvida, a fase mais vitoriosa da história do Inter. Você vive, e sendo o destaque do time, uma parte dessa fase, que começa especialmente em 2006. Você percebe que é, sem exagero, um dos maiores jogadores dos mais de 100 anos desse clube?
Não acredito nisso.
Não?
Não. O Inter tem muita história. Não acredito porque passei parte da minha vida no River. Joguei 16 anos lá. Aqui, vou completar três anos. Posso fazer essa comparação. Para ser ídolo, tem que viver muita história no clube. Eu acho, ou achava, que é preciso passar muitos anos no clube. E ganhar títulos também. Títulos eu ganhei. Ganhei muitos. Mas é um período de tempo curto. Eu deixo isso para a torcida. Não posso comparar a nada o carinho que as pessoas têm por mim. Não posso falar nada mais do que obrigado sempre que encontro essas pessoas na rua. São torcedores do Inter e do Grêmio também. O torcedor do Grêmio chega para mim, me dá parabéns, diz que gosta do meu futebol, e isso me deixa muito feliz, porque ultrapassa os limites do campo.
Por que você vai tão bem em Gre-Nais? Em um deles, o Inter ganhou por 4 a 1. Você fez um gol e deu o passe para os outros três.
Não sei. Na Argentina, não fui tão bem assim no River-Boca. Fiz um gol, e foi na Bombonera, mas foi mais parelho. Aqui, é o momento que o Inter aproveitou. Nós aproveitamos nosso momento para chegar da melhor maneira aos Gre-Nais. O grupo não fica nervoso. Vai para o Gre-Nal com a tranquilidade de que as coisas vão acontecer. Claro que o Gre-Nal é difícil. É muito difícil. Representa muito para a torcida. E isso marca um jogador. Fazer gol, ser protagonista, não é o mais importante, mas, individualmente, é algo que me marcou no clube.
Falando em marcas, como é a marca do Mundial em você? Esperava-se muito do Inter em Adu Dhabi, e especialmente de você, mas não deu certo.
Já passou. No meu pensamento, já passou. Não vou esquecer. Joguei o Mundial e não consegui ganhar. A gente sabia que a final era o primeiro jogo. Não conseguimos fazer nosso trabalho. Não tem desculpa quando perde um jogo desse tamanho. Era o jogo mais importante do ano. Mas o futebol continua. Temos que continuar lutando para voltar lá. Não vou esquecer nunca, mas vou trabalhar para voltar. A gente não fez um baita jogo, mas não fez um jogo ruim. Teve cobrança, mas acho que a torcida reconheceu nosso esforço. A gente não conseguiu se recuperar. Acho que o grupo só se recuperou, moralmente, esse ano. E esqueceu um pouco o Mundial.
Em 2014, você terá 33 anos...
Sim, 33 anos. E vou estar aqui no Inter.
Vai estar? Aliás, assinou a renovação? Sei que estava acertado, mas assinou?
É só uma formalidade. Posso dizer, hoje, que vou renovar por quatro anos e ficar até 2015 aqui.
Ficar mesmo? Porque uma coisa é assinar contrato, e outra é ficar mesmo.
É, mas nunca achei que ia ficar tanto, ganhar tanto, ter tanto carinho. Quando você entra em um trabalho novo, tenta fazer o melhor. O primeiro passo é conhecer o clube, as pessoas, o grupo, ser aceito. Esse passo já foi feito. O segundo passo é cumprir objetivos. Eles foram cumpridos da melhor maneira. Hoje, posso dizer que sou agradecido ao clube pelo reconhecimento, por ficar mais quatro anos.
O que te pareceu o Falcão nos primeiros contatos entre vocês?
Muito bom. Dá para ver que foi atleta. Ele significa muito para o clube, para o futebol brasileiro. Eu já tive cinco treinadores no Inter, e sempre falo o mesmo: o resultado manda no clube, no futebol. O Celso fez um baita trabalho. Estou muito agradecido a ele, como estive ao Mário Sérgio, a todos que passaram. Mas o Falcão, para o clube, é diferente. Ele significa uma coisa diferente. Ele mexeu com a torcida, com todo mundo. Temos que aproveitar isso e escolher o caminho certo, aproveitando a figura dele para levar o Inter mais alto.
Está certo. Feliz aniversário, D’Alessandro.
Muito obrigado.
Há exatos 30 anos, enquanto a Argentina apenas começava a formar Maradona como mito, enquanto um certo Paulo Roberto Falcão sonhava com a Copa do Mundo de 1982, um hospital de Buenos Aires entregava à luz mais um pequeno portenho. Dizem que as enfermeiras tiveram especial atenção com a perna esquerda do recém-nascido Andrés. Afinal, nunca se sabe, dali poderia surgir um drible só dele, ali poderia estar o alicerce de um símbolo do River Plate, ali poderia estar em criação um ícone moderno de algum clube (igualmente vermelho) de algum país vizinho (igualmente enlouquecido por futebol).
Há exatos 30 anos, abria os olhos em Buenos Aires o menino chamado Andrés Nicolas, que em breve infernizaria, com pernas finas, os vizinhos de La Paternal nas brincadeiras de rua, nas peladas de bairro.
Há exatos 30 anos, nascia Andrés Nicolas D’Alessandro, nascia D’Ale, nascia um futuro campeão da América pelo Internacional. O maior craque da atualidade no Beira-Rio vira trintão nesta sexta-feira. Referencial técnico do time, amado pela torcida, eleito melhor jogador do continente há poucos meses (em tradicional votação do jornal uruguaio “El País”), D’Alessandro completa três décadas de vida com histórias (boas e ruins) para contar. E com sonhos. O camisa 10 quer, a todo custo, disputar a Copa de 2014. E dá um aviso, em seu aniversário, como presente para a torcida: seguirá no Inter até lá.
D’Alessandro acertou renovação de contrato com o Inter. O novo vínculo vai até 2015. Só falta assinar. E ele não pensa em deixar o Beira-Rio tão cedo. O jogador, mesmo com tanta idolatria, mesmo com títulos expressivos, ainda não se sente parte do olimpo colorado, onde repousam os deuses dos mais de 100 anos de vida do clube. Para chegar lá, ele diz que precisa de mais tempo. E, pelo jeito, terá.
Eu lembro bem de sua chegada no Inter. Você desceu no aeroporto, e havia centenas de colorados lá. Aí você passou pelo hotel e logo veio para o Beira-Rio ver um jogo do Inter. Era contra o Santos. O Inter jogou muito mal naquela noite. Mas a questão é: você tinha, naquele momento, alguma noção de que tanta coisa poderia acontecer com você no Inter?
Claro que não. Claro que não. Quando você chega a um novo clube, tem expectativa, tem sonho, tem objetivo, mas não como aqui. Eu sabia que o Inter era grande, um dos maiores do Brasil, que tinha vencido a Libertadores de 2006, que tinha um grupo muito bom, mas é um processo até começar a vencer no clube. Tudo tem que sair bem. Um grupo que ganha é um grupo unido, formado há tempo. Pode acontecer de um grupo formado no início de um ano ganhar alguma coisa na metade do ano, mas acontece poucas vezes. Os que mais ganharam, como é o caso do Barcelona, jogam juntos há quatro, cinco, seis anos. São como uma família.
Pois é, D’Alessandro. Essa é uma questão importante. Você vive, sem dúvida, a fase mais vitoriosa da história do Inter. Você vive, e sendo o destaque do time, uma parte dessa fase, que começa especialmente em 2006. Você percebe que é, sem exagero, um dos maiores jogadores dos mais de 100 anos desse clube?
Não acredito nisso.
Não?
Não. O Inter tem muita história. Não acredito porque passei parte da minha vida no River. Joguei 16 anos lá. Aqui, vou completar três anos. Posso fazer essa comparação. Para ser ídolo, tem que viver muita história no clube. Eu acho, ou achava, que é preciso passar muitos anos no clube. E ganhar títulos também. Títulos eu ganhei. Ganhei muitos. Mas é um período de tempo curto. Eu deixo isso para a torcida. Não posso comparar a nada o carinho que as pessoas têm por mim. Não posso falar nada mais do que obrigado sempre que encontro essas pessoas na rua. São torcedores do Inter e do Grêmio também. O torcedor do Grêmio chega para mim, me dá parabéns, diz que gosta do meu futebol, e isso me deixa muito feliz, porque ultrapassa os limites do campo.
Por que você vai tão bem em Gre-Nais? Em um deles, o Inter ganhou por 4 a 1. Você fez um gol e deu o passe para os outros três.
Não sei. Na Argentina, não fui tão bem assim no River-Boca. Fiz um gol, e foi na Bombonera, mas foi mais parelho. Aqui, é o momento que o Inter aproveitou. Nós aproveitamos nosso momento para chegar da melhor maneira aos Gre-Nais. O grupo não fica nervoso. Vai para o Gre-Nal com a tranquilidade de que as coisas vão acontecer. Claro que o Gre-Nal é difícil. É muito difícil. Representa muito para a torcida. E isso marca um jogador. Fazer gol, ser protagonista, não é o mais importante, mas, individualmente, é algo que me marcou no clube.
Falando em marcas, como é a marca do Mundial em você? Esperava-se muito do Inter em Adu Dhabi, e especialmente de você, mas não deu certo.
Já passou. No meu pensamento, já passou. Não vou esquecer. Joguei o Mundial e não consegui ganhar. A gente sabia que a final era o primeiro jogo. Não conseguimos fazer nosso trabalho. Não tem desculpa quando perde um jogo desse tamanho. Era o jogo mais importante do ano. Mas o futebol continua. Temos que continuar lutando para voltar lá. Não vou esquecer nunca, mas vou trabalhar para voltar. A gente não fez um baita jogo, mas não fez um jogo ruim. Teve cobrança, mas acho que a torcida reconheceu nosso esforço. A gente não conseguiu se recuperar. Acho que o grupo só se recuperou, moralmente, esse ano. E esqueceu um pouco o Mundial.
Em 2014, você terá 33 anos...
Sim, 33 anos. E vou estar aqui no Inter.
Vai estar? Aliás, assinou a renovação? Sei que estava acertado, mas assinou?
É só uma formalidade. Posso dizer, hoje, que vou renovar por quatro anos e ficar até 2015 aqui.
Ficar mesmo? Porque uma coisa é assinar contrato, e outra é ficar mesmo.
É, mas nunca achei que ia ficar tanto, ganhar tanto, ter tanto carinho. Quando você entra em um trabalho novo, tenta fazer o melhor. O primeiro passo é conhecer o clube, as pessoas, o grupo, ser aceito. Esse passo já foi feito. O segundo passo é cumprir objetivos. Eles foram cumpridos da melhor maneira. Hoje, posso dizer que sou agradecido ao clube pelo reconhecimento, por ficar mais quatro anos.
O que te pareceu o Falcão nos primeiros contatos entre vocês?
Muito bom. Dá para ver que foi atleta. Ele significa muito para o clube, para o futebol brasileiro. Eu já tive cinco treinadores no Inter, e sempre falo o mesmo: o resultado manda no clube, no futebol. O Celso fez um baita trabalho. Estou muito agradecido a ele, como estive ao Mário Sérgio, a todos que passaram. Mas o Falcão, para o clube, é diferente. Ele significa uma coisa diferente. Ele mexeu com a torcida, com todo mundo. Temos que aproveitar isso e escolher o caminho certo, aproveitando a figura dele para levar o Inter mais alto.
Está certo. Feliz aniversário, D’Alessandro.
Muito obrigado.
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