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A segunda traição de Ronaldinho, ou a segunda bola nas costas, não se esquece

Por: Juremir Machado da Silva

O Grêmio desistiu de Ronaldinho.
Assim que soube que Ronaldinho havia desistido do Grêmio.
Quero me solidarizar com os torcedores gremistas.
Levar um chifre é humano e qualquer um perdoa.
Dois, da mesma pessoa, é desumano.
Quando Ronaldinho foi embora, levou o maior patrimônio móvel do Grêmio: ele mesmo.
Sem que ninguém pagasse nada na hora.
Na luta, o Grêmio recuperou uns caraminguás.
Agora, Ronaldinho queria levar o maior patrimônio imóvel do Grêmio, o Olímpico.
O Grêmio, marido traído desesperado, aceitava pagar um valor (100 milhões) maior do que o da sua casa, que será vendida por 80, para ter de volta o maior amor da sua vida, aquele que o deixou chorando na janela.
O menino pobre não podia perder a oportunidade da sua vida.
Agora, o homem rico não pode perder mais uma oportunidade na sua vida.
Eu pensava que a imagem mais retumbante deste milênio era a dancinha do Kidiaba humilhando o Inter.
Eu pensava que o mico do milênio era o Mazembe eliminando o Inter.
Estamos na sociedade do espetáculo: uma imagem mata a outra.
Aceleração vertiginosa. Tudo passa. Nada permanece.
Como dizia Marx, tudo o que é sólido desmancha no ar.
A começar pelos nossos melhore sonhos.
A imagem dos funcionários do Grêmio retirando as caixas de som para a festa que não aconteceu suplantou todas às imagens que vi até agora em melancolia, tristeza, luto, peso, plástica e estética, estética de um fracasso.
Entrará para a história da antropologia visual do século XXI, a exemplo daa imagem dos aviões entrando na segunda torre do World Trade Center, como uma das imagens mais impressionantes de todos os tempos.
Duro mesmo é ter de pagar pela aparelhagem de som que não foi usada.
Eu me solidarizo.
Ronaldinho frustou o Grêmio quando foi embora.
Frustrou o Grêmio quando foi anulado pelo Ceará na final do mundial em que o Inter bateu o Barcelona.
Frustrou o Grêmio ao preferir o Flamengo.
Ainda resta uma esperança. Ele ainda não assinou.
Quem sabe, por amor, vem implorar para, enfim, ser aceito.
Eu sempre tento me colocar no lugar dos outros para entender suas razões.
Coloquem-se no lugar de Ronaldinho.
Entre ser amado por quatro milhões de torcedores ou por cem milhões, preferiu a segunda hipótese.
Entre ter um jogo do seu time em rede nacional de tevê de vez em quando e ter dois jogos por semana mostrados para todo o Brasil, preferiu a segunda hipótese.
Entre Ipanema (Porto Alegre) e Barra da Tijuca, preferiu a segunda hipótese.
Entre a Rede Baita Sol e a Rede Globo, preferiu a segunda hipótese.
Entre a festa vigiada e a festa liberada, preferiu a segunda hipótese.
Ronaldinho é o homem da segunda hipótese.
O Grêmio será sempre a primeira. Possibilidade.
Afinal, no Fla, estará mais perto da seleção brasileira, do Cristo (Redentor) e do Galvão Bueno.
Pensando bem, Ronaldinho foi razoável.
Ele ama o Grêmio. Mas amores, amores, negócios à parte.
O problema é que o segundo chifre não se esquece.
Tem lado positivo: a simetria. Um de cada lado.
Um só é coisa de rinoceronte e de unicórnio.
Digo isso sem coloradismo. Digo friamente.
Eu faria o mesmo que o Grêmio. Até cantaria com o genial Lupícinio Rodrigues: você sabe o que ter um amor, meu senhor, e depois ver esse amor nos braços de um outro qualquer.
O problema, mais um problema, é que Grêmio queria que a parte do Milan saísse do bolso do Ronaldinho.
Seria um prejuízo enorme para ele: oito milhões em cem.
Tinha gavião, quer dizer, urubu, aceitando livrar o craque desse pepino.
Eu digo aos gremistas como coirmão enlutado: ele ainda pode vir.
Nem que seja depois do Flamengo.
Assim como certos cantores, depois do Olympia e do Canecão, vão a Cacequi.
Amor é para sempre.
O Grêmio provou sua imensa capacidade de amar.
Outra sugestão musical com gosto gaúcho: Kleiton e Kledir: vou ficar na sua vida como uma paixão mal-resolvida...
Como é triste o amor...
Como dói!