Ajoelhe e agradeça - Fernandão olha por nós! Foto: Diego Guichard |
Não ouse duvidar do Internacional. Não ousem pensar em facilidade ou dificuldade em demasia. Dentro do Beira-Rio o que escuto são preces por desafios. Somos, inevitavelmente, guerreiros permanentes. A luta sem sofrimento não é válida por aqui - o que a gente colhe é emoção sem descrição.
A apreensão é sempre constante, o coração quase sai pela garganta a cada segundo. Sinto minha respiração sofrer drásticas alterações e não me importo nem um pouco com isso. O lance prende minha atenção e me desligo do mundo a cada passe. Não consigo voltar a si até que o juiz apite o fim do jogo. Ter o sangue desse time correndo em minhas veias não me permite pensar em outra coisa.
Juan marca o primeiro gol e sinto minhas cordas vocais arranharem de tanto que grito. Reclamo da falta de posse de bola e da falta de marcação. Levanto da cadeira mil vezes porque sentada eu fico passiva demais. Não consigo me controlar - xingo o máximo que posso, jogo as coisas para os lados, enlouqueço. Isso porque ainda estamos nos vinte minutos iniciais.
O Inter parece perdido, afobado, com pressa - eu pareço uma louca de hospício. Inacreditavelmente nervosa. Falo repetidas vezes que o colorado precisa se impôr dentro de campo - sinto que ninguém me escuta, a não ser os vizinhos, pois o nervosismo aumenta consideravelmente o tom de minha voz. Mas na volta para o segundo tempo meu coração me diz que Aguirre me escutou.
Os colombianos encurralados não sabem para onde ir - abusam da violência para justificar a falta de alternativas perante a grandeza de futebol imposta pelo Internacional. Começo a tremer a cada finalização. Jogadores são expulsos e Nilmar sai machucado assim como Sasha ainda na primeira etapa. A única coisa que penso é que tem que ser suado e chorado para fazer parte da nossa história.
Rafael Moura aparece e meus lábios balbuciam algo como "é ele quem vai marcar". Confesso que não acredito ter dito isso, mas disse. A bola vai sendo levantada na área e só consigo ver a hora em que ela entra. Explodo de emoção, grito tanto que me falta voz. Jogo tudo para alto e saio correndo. Meu time é fantástico demais.
Rezo trocentas ave-marias e fecho os olhos. D'alessandro se entrega mais uma vez. O time se dispõe a lutar por todos que roem suas unhas pelos quatro cantos do mundo. Aguirre se agacha para ver os minutos finais entre as frestas deixadas por todos à frente do vestiário. Me orgulho de nunca sequer ter pensado em duvidar de seu potencial como treinador.
O juiz ergue o braço e as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não há nada que se compare à explosão de sentimentos que o Inter proporciona a todos nós. As luzes se apagam e as canções de amor incondicional saídas do Beira-Rio chegam ao meu coração. Eu sempre me surpreendo.
A fé que nos acompanha jogo a jogo se intensifica, temos Fernandão que nos abençoa pela garra lá de cima. Os adversários já nos olham de uma forma bem mais diferente, afinal, as críticas não abalam o potencial de quem deseja fortemente alguma coisa.
Caiu no horto não está morto. E santa seja a nossa FÉ.